Há muito tempo, não escrevo aqui. Já faz mais de um ano que publiquei um texto nesse blog, foram reflexões, em poemas, sobre dois Salmos, nada mais em 2019. Muito pouco em 2018, que foi o último ano que publiquei um texto no dia 1º de Janeiro, data que nasceu o Tudo para Um. Muita coisa mudou, e eu não publiquei nada a respeito em 2019. Concluí, em 2018, o curso de engenharia mecânica, mas ainda não exerço a profissão. Em 2018, vimos o país se dividir e, em 2019, a fratura continuou. Chegamos a 2020 e, agora, realmente tudo mudou. Pandemia.
Evitei escrever nesses tempos de divisão, qualquer manifestação de opinião que implicasse algo sobre política poderia acalorar ânimos, gerar brigas. Li e ouvi relatos de discussões políticas que encerraram amizades, dividiram famílias, causaram feridas, na alma e até físicas. Igrejas se politizaram, houve brigas e discussões em igrejas, houve e há cegueira… Veja, se aqui faço reflexões sobre a vida, sob uma perspectiva cristã, como escapar de certas questões difíceis para o contexto atual? 2020 chegou… A pandemia do coronavírus chegou ao Brasil. Crises sobre crises. O presidente convoca os evangélicos a um jejum… Espera aí, o presidente?
Tempos estranhos: líderes de igrejas evangélicas e de seitas que se denominam tal apoiaram. Ora, evangélicos (e aqui não estou falando das tais seitas) são os herdeiros – digamos – da Reforma Protestante, uma reforma que valorizou e defendeu, entre outros aspectos, a separação da igreja e do Estado, e esse Estado no qual vivemos, o Brasil, na sua Constituição, declara-se laico. É-me estranho que um presidente conclame um jejum a um grupo religioso, é-me inacreditável que evangélicos tenham aceitado tal convocação. Eu uso das palavras escritas na bandeira do meu estado, Paraíba: “nego”. Entendo a importância de deixar pública minha opinião, e é apenas isso, não procuro debatê-la, não quero brigas e etc.
Sendo cristão e cidadão de um Estado laico, considero que o governo civil não tem autoridade e competência para conclamar a população a jejuar e orar a Deus, tampouco deve usá-lo politicamente. Para mim, o jejum é uma disciplina espiritual individual, algo entre o indivíduo e Deus apenas, na qual deve haver arrependimento, pois fazê-la levianamente é afronta a Deus; jejum é ato de humildade, de reconhecimento de incapacidade e submissão ao Deus Santíssimo e Soberano sobre todas as coisas, é reconhecimento da própria pecaminosidade e ânsia por socorro, por graça salvadora, pela providência divina. Além disso, abster-se de alimento em meio a uma pandemia de doença tão devastadora, privando o corpo de nutrientes importantes para fortalecimento do sistema imunológico não é sensato, não é racional.
Que Deus tenha misericórdia daqueles que levianamente tenham jejuado e orado, sem arrependimento, sem fome e sede de justiça, sem o exercício da misericórdia. Que Deus tenha misericórdia e os leve ao arrependimento, se o fizeram em demonstração de apoio político irrefletido, não pensado (como ocorre em muitos, infelizmente, desde 2018), ou por qualquer outra motivação senão um culto racional a Deus, senão por contrição, arrependimento, se não vos levar a seguir “a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14). Do contrário, ai de vós! “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo.” (Hebreus 10:31).
Em Isaías, capítulo 58, versos de 1 a 11, diz o seguinte:
“Grite alto, não se contenha! Levante a voz como trombeta. Anuncie ao meu povo a rebelião dele e à comunidade de Jacó, os seus pecados. Pois dia a dia me procuram; parecem desejosos de conhecer os meus caminhos, como se fossem uma nação que faz o que é direito e que não abandonou os mandamentos do seu Deus. Pedem-me decisões justas e parecem desejosos de que Deus se aproxime deles. ‘Por que jejuamos’, dizem, ‘e não o viste? Por que nos humilhamos, e não reparaste?’ Contudo, no dia do seu jejum vocês fazem o que é do agrado de vocês e exploram os seus empregados. Seu jejum termina em discussão e rixa e em brigas de socos brutais. Vocês não podem jejuar como fazem hoje e esperar que a sua voz seja ouvida no alto. Será esse o jejum que escolhi, que apenas um dia o homem se humilhe, incline a cabeça como o junco e se deite sobre pano de saco e cinzas? É isso que vocês chamam jejum, um dia aceitável ao Senhor?
“O jejum que desejo não é este: soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo? Não é partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou, e não recusar ajuda ao próximo? Aí sim, a sua luz irromperá como a alvorada, e prontamente surgirá a sua cura; a sua retidão irá adiante de você, e a glória do Senhor estará na sua retaguarda. Aí sim, você clamará ao Senhor, e ele responderá; você gritará por socorro, e ele dirá: Aqui estou.
“Se você eliminar do seu meio o jugo opressor, o dedo acusador e a falsidade do falar; se com renúncia própria você beneficiar os famintos e satisfizer o anseio dos aflitos, então a sua luz despontará nas trevas, e a sua noite será como o meio-dia. O Senhor o guiará constantemente; satisfará os seus desejos numa terra ressequida pelo sol e fortalecerá os seus ossos. Você será como um jardim bem regado, como uma fonte cujas águas nunca faltam. […]”
Este é o jejum que Deus deseja, esse é o jejum mais adequado a tempos de pandemia, nos quais muitos não tem o mínimo necessário para sobreviver.
Glória somente a Deus!
Tarciso Rodrigues Martins.
Tudo para Um 
É isso, meu amigo!
Saudades da tua escrita. De poder ler e se deleitar em um olhar do cotidiano à luz da bíblia. Na beleza que é pensar e perceber o que temos pensado.
Sou uma leitora assídua. Já quero novos textos. Bjs.
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Tem coisas que não cabem a nós explicar ou tentar entender, não esta no nosso controle e nem deveria, mas de uma visita em uma rede social acabei encontrando esse belo blog, obrigado pelas palavras, o seu conteúdo é muito bom, fico ansioso por novas mensagens, abraço.
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