Jogo de Palavras: Motivações

A primeira palavra é a mais difícil, A primeira frase é mais difícil, mais trabalhosa, mais suada. Atitudes, às vezes, são difíceis – amar, perdoar, compadecer-se, viver dignamente. Há questões difíceis de expressar em textos, também difíceis de expressar em vida, difíceis de expressar no falar.

Alguém que escreve tem seus dilemas, temas de que não gosta de expressar opiniões, idéias. A vida tem seus dilemas, suas dificuldades. Há coisas que não gostamos de expressar. Há questões que tornam a vida tão difícil quanto a primeira frase de um texto, que o escritor deixou fugir a idéia.

Há atitudes que se tornam inexpressivas, há gestos que paralisam no gesticular. Há palavras que são silenciosas, há textos que são páginas em branco. Quando valorizamos mais a ação, quando esquecemos as motivações, quando agimos por impulso, quando agimos em frieza, a forma se deforma, o molde se derrete.

Quando não há nada o que falar, talvez haja o que falar. Em paradoxos e antíteses a idéia chega. Uma conversa jogada ao vento pode ter seu valor, como um texto que começa justificando a falta da primeira palavra, da idéia, pode gerar uma idéia. Palavras não ditas se tornam, então, palavras expressivas.

Há coisas que um tímido deseja expressar, e falta-lhe a expressão para expressar. Há coisas que uma folha em branco pode falar, como também há coisas que um silêncio pode falar; mesmo uma face paralisada no silêncio, com um livro sem palavras em mãos, pode falar. No final, o que importa é a motivação.

Nós somos cheios de paradoxos e antíteses em nossas vidas, somos complexos seres complicados, almejamos aquilo que não deveríamos, almejamos, às vezes, aquilo que não desejamos, encaramos aquilo que não quereríamos nunca. Agimos impulsivamente e friamente, perdemos o equilíbrio, caímos. Ah, somos tão vazios, tão sem sentido, em tudo vemos falhas, somos falhas. Ansiamos o perfeito e contentamo-nos com o imperfeito. Nossas motivações se esvaecem, e, quando não, enegrecem.

Quando o sentido de tudo que fazemos esvaece, perdemos a direção, perdemos o vigor dos gestos, as formas, as letras das palavras, o colorido; tudo mistura-se, numa completa desordem, e torna-se gris. O que fazemos torna-se como sombra, todas as nossas falas tornam-se tímidas. A idéia sucumbe em pó, a ação reduz-se ao inânime. No final, o que importa é a motivação.

Fomos criados, criados para um fim, e o fim é motivação, renegando-a ou cambiando-a, perdemos o prumo, navegamos como um navio à deriva em uma tempestade – o naufrágio é certo. Fomos criados para a glória de Deus. A glória de Deus deve ser a motivação de tudo. Essa motivação traz vida, traz vigor aos gestos, significado às palavras, som à fala, sentido à vida, e afasta-nos daquilo que é mau; afasta-nos do gris e do enegrecido, afasta-nos do pó; aproxima-nos do Perfeito.

Esforcemo-nos para que, em todas as coisas, nossa motivação seja a glória de Deus.

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus.”
(1 Coríntios 10.31)

Glória a Deus somente!

Tarciso Rodrigues.

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